Painel realizado a pedido do Coletivo Nós reuniu gestores públicos, autoridades e representantes de entidades que atuam junto ao movimento de mulheres negras
Texto: Isaías Rocha
Representantes do movimento de mulheres negras reivindicam políticas públicas para que essa parcela da população saia da invisibilidade perante uma lógica social excludente em consonância com a estrutura do racismo, que ainda coloca esse público em uma situação muito mais excludente em relação a outros grupos.
Em busca de saídas, a Câmara Municipal de São Luís foi palco, na tarde desta quinta-feira (9), de um grande debate que mostrou a importância do assunto. Requerido pelo Coletivo Nós (PT), o painel com o tema “A invisibilidade da Mulher Negra na concepção de Políticas Públicas”, revelou várias desigualdades vividas por elas no âmbito da capital maranhense.
O evento, que foi realizado no Plenário Simão Estácio da Silveira, reuniu gestores públicos, autoridades e entidades que atuam junto ao movimento, para uma ampla discussão em torno de palestras e reflexões quanto ao papel do poder público neste sentido.
Mediado pela co-vereadora Eunice Chê, do Coletivo Nós, o debate contou com a participação do secretário de Estado da Igualdade Racial (Seir), Gerson Pinheiro; da secretária de Estado da Juventude (Seejuv), Tatiana Pereira; secretária adjunta de Participação Popular (Sedihpop), Creuzamar de Pinho; da secretária geral do Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional, Josanira Rosa da Luz; e da especialista em Saúde da Mulher Negra, Lúcia Azevedo, que foram alguns dos painelistas.
Contra lógica social excludente
Ao abrir o painel, a representante do mandato coletivo fez a leitura da proposição que originou o ato e explicou que o encontro também estava sendo realizado em homenagem à defensora dos direitos das mulheres e militante nos movimentos negros no estado, Ana Silvia Cantanhede, que faleceu em 2000 e que deu inspiração para criação do Dia Municipal da Mulher Negra a ser celebrado anualmente em 25 de julho.
“Por essa razão, o mandato Coletivo Nós e o Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa, resolveu ir além da celebração e propôs a realização deste painel para trazer à tona a invisibilidade das mulheres negras perante uma lógica social excludente em consonância com a estrutura do racismo que colocou esse público em uma situação muito mais excludente em relação a outros grupos”, frisou.
Importância da transversalidade
Durante o encontro foi destacado entre os presentes que as mulheres negras representam 28% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Apesar de serem o maior grupo populacional, elas encontram barreiras para consolidar a participação, principalmente, em espaço majoritariamente composto por homens brancos, onde as concepções racistas e machistas dificultam um lugar de destaque em posições importantes.
Na ocasião, a palestrante Josanira Rosa da Luz, coordenadora do Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional, destacou entre outros pontos, a importância de trabalhar a transversalidade.
“É nessa transversalidade da política que podemos discutir a implementação de programas e fóruns para as mulheres negras e para a população como um todo. Por isso, considero medidas como essas de grande importância para que possamos avançar neste sentido”, afirmou.
Referência na saúde do povo negro
Para contribuir com a ideia, a painelista Lúcia Azevedo, que é especialista em Saúde da Mulher Negra, apontou a necessidade de expandir o nível de influência das políticas negras sobre a população para ter reconhecimento. Além disso, ela também lembrou que o Maranhão é referência em ações voltadas para saúde da população negra.
“Nós estamos hoje em vários locais, mas tivemos que começar nos nossos espaços de lutas, em nossa rua, na nossa escola, em nossa casa. Fui convidada para falar de saúde da população negra. O Maranhão é referência nacional nessa política pública voltada para saúde da polpação negra e agora precisamos avançar também em outras áreas e setores”, pontuou.
Medidas para romper a invisibilidade
Ao final do encontro, os representantes do mandato coletivo concordaram com todas as questões abordadas no evento e afirmaram que estarão sempre atuando na Câmara para buscar encaminhamentos voltados para o rompendo da invisibilidade buscando medidas para construção de políticas públicas para mulheres negras na cidade.
Também estiveram presentes no ato os co-vereadores Jhonatan Soares e Raimunda Oliveira; a coordenadora titular do Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa, Vinólia Andrade; a vice-presidente do Conselho Estadual da Política de Igualdade Étnico-Racial, Jacinta Maria Santos; a secretária adjunta da Secretaria de Estado e Desenvolvimento (SEDES), Celia Salazar; e a presidente do Conselho Municipal da Condição Feminina de São Luís, Silvia Leite.