A ausência das festividades juninas nestes dois anos acaba impactando diretamente toda uma cadeia produtiva causando prejuízos significativos
Junho é mês de São João. Porém, pelo segundo ano consecutivo, as festas juninas foram suspensas por causa da pandemia. Com isso, a ausência da tradicional festividade popular impactou diretamente toda uma cadeia produtiva causando prejuízos significativos.
Em alusão ao Dia de São João, celebrado anualmente em 24 de junho, vários vereadores da Câmara Municipal de São Luís (CMSL), aproveitaram a oportunidade para realizarem reflexões sobre o clima junino espalhado pela cidade.
O primeiro a se manifestar sobre o tema, vereador Marcos Castro (PMN), que é presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto e Lazer (CECDL), ressaltou a luta diária pela aprovação de medidas em favor da classe artística e cultural da capital maranhense nestes dois anos sem festividades.
“Tenho um diálogo muito bom com a Secretaria de Cultura e com a Prefeitura, em várias causas e objetivos, como, ontem, quando nos reunimos para discutir ações que beneficiam os artesãos da capital. E fico imensamente esperançoso porque temos nossas lutas individuais, mas sem perder de vista as coletivas”, disse.
Live junina
Apaixonada pelos festejos da época, a vereadora Fátima Araújo (PCdoB), destacou que o São João nos últimos dois anos precisou passar por uma reformulação, mas isso não necessariamente implicou no seu cancelamento.
De acordo com a parlamentar, alguns destes eventos se adaptaram para os tempos da pandemia do coronavírus e estão sendo realizados de diversas formas, desde as celebrações feitas em casa até as chamadas de vídeos. Ela, por exemplo, está organizando um live junina em seu instagram – @fatimaaraujomulhergeurreira – para que a data não venha passar em branco.
“O São João é aquele momento em que o artista mais trabalha para poder manter o equilíbrio dos grupos, ter bons instrumentos, boa qualidade de serviço e garantir o sustento de sua família. Com o segundo ano consecutivo de restrição, resolvemos realizar uma live junina para celebrarmos a vida e dar oportunidade para que o artista possa garantir uma renda. Será nesta sexta-feira, a partir das 20h no meu instagram”, convidou.
Socorro na pandemia
Os vereadores estão em constantes lutas por ações de incentivo aos artistas ludovicenses para manter viva a mais tradicional festa dos nordestinos: o São João. Estas categorias, na avaliação dos parlamentares, trabalham muito neste período, mas estão preocupadas, desde o ano passado, com o avanço da pandemia e as restrições que impactaram diretamente toda uma cadeia produtiva causando prejuízos significativos.
Para isso, no último dia 9 deste mês, o plenário da Casa aprovou o Projeto de Lei nº 171/2021, encaminhado pelo prefeito Eduardo Braide, que cria o Auxílio Municipal Emergencial São João de São Luís. O benefício é destinado aos artistas e agremiações culturais, em decorrência da suspensão dos eventos juninos em 2021, por força da permanência da pandemia da Covid-19.
O auxílio beneficia cantores e cantoras, artes cênicas, bumba-meu-boi, danças regionais, grupos alternativos e tambor de crioula. Será pago em parcela única e terá valor mínimo de R$ 1 mil e máximo de R$ 10 mil, de acordo com critérios a serem estabelecidos pela Secretaria Municipal de Cultura.
Regime de urgência
Logo no início da sessão, o vereador Chico Carvalho (PSL) apresentou requerimento verbal, solicitando a apreciação do projeto em regime de urgência e com inversão da pauta, para que fosse logo votado em primeiro lugar na Ordem do Dia.
“Este auxílio garantirá uma fonte alternativa de renda aos artistas e grupos que atuam no São João”, argumentou Chico Carvalho, cujo requerimento foi aprovado pelo plenário.
Origem da festa junina
O começo da festa junina no Brasil remonta ao século XVI. As festas juninas eram tradições bastante populares na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e, por isso, foram trazidas para cá pelos portugueses durante a colonização, assim como muitas outras tradições. Quando introduzida no Brasil, a festa era conhecida como festa joanina, em referência a São João, mas, ao longo dos anos, teve o nome alterado para festa junina, em referência ao mês no qual ocorre, junho.
Inicialmente, a festa possuía um forte tom religioso – conotação essa que se perdeu em parte, uma vez que é vista por muitos mais como uma festividade popular do que religiosa. Além disso, a evolução da festa junina no Brasil fez com que ela fosse associada a símbolos típicos das zonas rurais.
Lendária festa em São Luís
Lendas profanas e crenças religiosas fazem parte da essência de mais de 500 grupos folclóricos responsáveis por cerca de 1.500 manifestações populares, nessa época do ano.
Diz a lenda no Maranhão que o escravo Pai Francisco, para satisfazer a sua mulher “Catirina”, grávida e com desejo de comer língua de boi, mata o novilho Mimoso, o mais querido do seu senhor. Ao ser descoberto, Pai Francisco foge com a mulher, mas é preso e finalmente libertado quando feiticeiros conseguem, por meio de rituais mágicos, ressuscitar o animal. Assim nasceu o Bumba-meu-Boi – culto popular de origem europeia que, ao se misturar com a cultura africana, se transformou em patrimônio imaterial brasileiro e o grande destaque da festa junina de São Luís do Maranhão.
Cada um dos ritmos marca a comemoração de um santo. O Maranhão é o único estado brasileiro que festeja quatro santos católicos durante o mês de junho: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal.
No dia de Santo Antônio (13 de junho), o santo casamenteiro, as igrejas costumam distribuir pãezinhos, que serão guardados o resto do ano como forma de garantir fartura de comida durante o ano.
O São João (24 de junho) celebra o São João Batista. Há uma lenda de que o grande santo dos festejos juninos prefere dormir o dia inteiro de sua festa para conter o desejo de, ao ver as fogueiras, descer e comemorar na terra. Para tentar acordar o santo, os fiéis soltaram muitos fogos de artifício durante o dia.
São Pedro (29 de junho) é o santo protetor dos pescadores. Sua festa na cidade começa em frente à capela que leva seu nome, no bairro Madre Deus. Os grupos de Bumba-meu-Boi se aglomeram no largo, onde se “rouba” o mastro de São João. O guardião das portas do céu é também responsável pela chuva e por proteger pescadores e viúvas.
São Marçal, (30 de junho), encerra oficialmente os festejos juninos. Nesse dia (desde às 6h da manhã até a madrugada), ocorre o Encontro dos Batalhões de Bumba-meu-Boi, no bairro do João Paulo.
O Tambor de Crioula também entra nas festividades para homenagear São Benedito – santo negro de forte identidade com a maioria afrodescendente do estado.